Nosso cotidiano é profundamente marcado pelo
mass-media, somos bombardeados com mensagens – subliminares ou não – o tempo todo, seja dentro de casa, no emprego ou nas ruas. É característica própria do
mass-media a veiculação de mensagens que serão compreendidas por todos de maneira similar, de maneira massificada. As HQs (Histórias em Quadrinhos) são um bom exemplo disso, tanto por se inscreverem no seio da massificação quanto, por outro lado, conseguirem extrair da massificação uma linguagem artística própria. É bastante significativo que artistas como Roy Lichtenstein e Andy Warhol – os gurus da Pop Art – dedicassem atenção especial às HQs. Ocorre que estas narrativas se utilizam de padrões (
standard) que permitem – ou, antes, obrigam – que os milhares de leitores interpretem as imagens, os textos e a seqüência da história de uma mesma maneira.
Este é um procedimento precioso ao
mass-media no sentido em que não pode se dar ao luxo de permitir que as pessoas interpretem ao seu bel prazer as suas mensagens. O que seria de uma propaganda comercial ambígua? E se o consumidor entender a mensagem de um modo que desvalorize o produto? A propaganda comercial tem que ser rápida, clara, objetiva, sem ambigüidades acerca da mensagem a ser transmitida, e ainda assim, bela. Tal é o ponto em comum entre o
mass-media e as HQs. A diferença entre eles é que as HQs não ficam presas à divulgação de um produto, podem divagar livremente no sonho, estão mais atentas ao quesito beleza do que ao quesito mercado. Uma diferença extremamente importante, evidentemente. A Pop Art levará adiante a proposta dos HQs e se servirá dos ícones do
mass-media por serem elementos comuns ao cotidiano, e que são interpretados de forma similar pela maioria das pessoas. A coca-cola, Marilyn Monroe, Elvis Presley, Che Guevara. Basta a silhueta da garrafa de coca-cola ou o esboço do rosto de Marilyn para que eles sejam imediatamente reconhecidos. Lembrando que estes ícones não se reduzem somente às figuras humanas ou marcas comerciais, mas abarcam também os ícones produzidos pelo sensacionalismo da notícia, como desastres aéreos, tumultos civis, terremotos, pena de morte, Copa do Mundo, fofocas, etc. Aquilo de que se serve a Pop em suas obras não são somente as grandes marcas, mas tudo aquilo que circula e que é absorvido por um grande público. Eis a grande sacada da Pop Art: utilizar-se de produtos do
mass-media (ícones da televisão, do rádio, da notícia, dos
outdoors, das propagandas comerciais) como matéria prima para a linguagem artística. Tal utilização dota a Pop Art de uma linguagem que pode ser absorvida por qualquer cidadão em qualquer parte do mundo, independente de cor, raça, nível de educação, classe social ou opção sexual, isto que confere uma universalidade à Pop Art que inexiste em outros movimentos artísticos. Uma das funções da arte é comunicar um sentimento através da matéria (seja ela física, imagética, sonora ou verbal), e extração e a comunicação de um
feeling a partir de uma matéria bruta amplamente conhecida coloca a Pop Art na posição de uma das vanguardas mais frutíferas do séc. XX. Não é de se admirar que tenha exercido influências em âmbitos tão díspares como o Psicodelismo, Michael Jackson, Basquiat, o Rock’n Roll e o Tropicalismo. Seja na pintura, na música ou na literatura, seja nos EUA ou nos trópicos, desde movimentos reconhecidamente midiáticos, até aqueles que iam de encontro aos valores vigentes, todos eles se serviram de técnicas da Pop Art. O que fez da Pop Art um fenômeno mundial não foi o seu caráter comercial, mas a universalidade de sua comunicação. Um quadro de Elvis, uma cadeira elétrica, são ícones reconhecidos e compreendidos de maneira similar em qualquer lugar do mundo. A utilização de ícones do
mass media como tema para as obras facilitam o acesso às mesmas. Estes ícones, aqui, são a matéria prima a ser transformada em linguagem artística, e não simplesmente apologia ao consumismo ou ao sensacionalismo.