domingo, 20 de dezembro de 2009

Borderline

Linha de borda para franco-atiradores do hospício sagrado da rua. Linha de borda traçada pela prancha na onda: linha de body-board. Linha de borda, silhueta traçada pela navalha dos olhos. Linha de borda, risca-faca do pensamento lunar. Linha de borda, minha alma pulando no abismo dos intermediários. Linha de borda, arrastão do ser. Linha de borda, qualquer coisa que ainda não existe, mas que já existe. Linha de borda, o crepúsculo e a alvorada abrindo brechas no arranha céu. Linha de borda, um buraco na teia. Linha de borda, um rio na cheia. Linha de borda, um fio de lã destecido e destrançando o crochê. Linha de borda, desfazer-se, desaprender-se. Linha de borda, descumprir-se a criação. Linha de borda, a fronteira do inevitável. Linha de borda, o choque do acaso com a imanência, e vice-versa. Linha de borda, a eminência do não sei o quê, propulsionado pelo amadurecimento da polpa sem ser acompanhado pelo rompimento da casca. Linha de borda, ovo atômico do caos. Linha de borda, estouro das divisórias das coisas da vida. Linha de borda, névoa acariciando a noite do não-ser. Linha de borda, o canto da sereia. Linha de borda, Ulisses sem cera nos ouvidos, mas muito firmemente amarrado no mar do desconhecido. Linha de borda, a razão pulando e dançando como se fosse valsa, e como se fosse falsa a perda de todas as referências em um baile de máscaras.