quinta-feira, 8 de julho de 2010

Água e sal

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A psicanálise, a astrologia e a metafísica de

Aristóteles: são tantas interpretações...
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segunda-feira, 5 de julho de 2010

Considerações sobre a Copa: um consolo para os inconsoláveis...

A derrota do Brasil para a Holanda mostra bem como lambanças podem se transformar em feitos históricos. Se analisarmos os dois gols da Holanda, veremos que ambos saíram de jogadas completamente erradas do time holandês. O primeiro foi um cruzamento mal feito para a área que, devido à confusão de Felipe Melo e Júlio César, resultou em gol. O segundo gol saiu de um escanteio mal batido (no primeiro pau, e baixo) e uma bola mal cabeceada (cabeceio com a parte superior da cabeça) que sobrou na área do Brasil. O Brasil não jogou mal. É evidente que a equipe não soube lidar com o resultado negativo, e perdeu a cabeça. Mas o jogo em si, não foi ruim. Dunga fez bem a parte dele. Chegou na seleção sem nunca ter treinado time algum, fez convocações se pautando pelas necessidades da equipe e pelo desempenho dos jogadores com a camisa da seleção, e, apesar do excesso de volantes, montou uma equipe forte e equilibrada. Boa defesa, bons laterais, bom ataque. O meio campo não era lá essa proeza de criatividade, mas fazia seu papel corretamente. Brasil e Alemanha (time técnico, bem armado e bem posicionado, eficiente no ataque e na defesa, excelente meio campo) foram as melhores equipes da copa, seguido da Holanda (time técnico, bom meio campo, bom ataque, mas que não sabe jogar na defesa). Argentina, com esse time, nunca me meteu medo (a defesa é uma piada, o ataque é bom mas o time não sabe sair com a bola nos pés, laterais não são bons, jogando em função de Messi - a "cereja do bolo" - e não em função do gol), nem a Espanha (que é louvada por ter um time ofensivo, mas que possui o pior ataque dentre os quatro semi-finalistas, e sem ter se deparado com alguma equipe realmente forte...). Além de tudo, Dunga peitou a digníssima Rede Globo e passou por cima de seu contrato de exclusividade feito com Ricardo Teixeira. Isto que, por si só, já mereceria destaque. O Brasil foi eliminado nas quartas-de-finais, tudo bem. Não se pode julgar um trabalho em vista de um único resultado, ainda mais um resultado que foi construído mais pelo acaso do que pela incompetência da seleção, ou por mérito da Holanda (que tinha um bom time, mas que não ganharia o jogo se não fosse a mão do acaso). É engraçado que as pessoas façam análises levando em conta única e exclusivamente o placar final, esquecendo-se de analisar como esse placar foi construído, que é o que realmente importa numa análise. Às vezes a vitória ou a derrota é mais um fruto do acaso do que do trabalho. O inverso aconteceu na Copa das Confederações, quando o Brasil venceu sem jogar bem. Novamente a imprensa analisou o resultado, e não o jogo. Não acho que repetimos o que ocorreu em 2006, quando o melhor time da copa era o time reserva do Brasil, que venceu todos os coletivos; que venceu a copa das confederações dando olé na Argentina e na Alemanha, mas que não foi escalado como titular porque a Globo e os patrocinadores tinha as suas preferências. Ronaldo fora de forma, Roberto Carlos sem jogar nada, Cafu já bem velhinho e sem acertar um cruzamento, Adriano jogando fora de sua posição; deixando Robinho, Gilberto e Cicinho no banco de reservas e colocando em campo jogadores que não se adequavam ao esquema tático empregado, o famoso “quadrado mágico”, que requeria jogadores de velocidade nas laterais e Adriano dentro da área – e não fora. Não digo de Ronaldo Gaúcho em 2006, realmente ele não jogou nada, mas estava isolado e fora de sua posição de origem. Não se pode exigir muito de um atacante jogando isolado, bem marcado, e praticamente fazendo a função de um volante. Não creio que a história tenha se repetido, como não cessa de ser afirmado pelos meios de imprensa. Mas estamos no Brasil, o país do futebol e não da análise tática, daí porque temos excelentes jogadores, técnicos medianos e péssimos comentaristas. Ademais, manifesto meu apoio à seleção Holandesa, que quase sempre foi “azarada” nas Copas, e seria injusto que times como a Inglaterra, França e Uruguai, que comumente apresentam futebol inferior às seleções holandesas, possuam títulos mundiais, enquanto que a Holanda não tem nenhum. Gosto da escola de futebol holandesa, que quase sempre apresenta um futebol técnico e inteligente. Que a Laranja Mecânica possa, enfim, conquistar a posição que merece no futebol mundial.

Au revoir...

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Feliz 1984!

O ano era 1948, George Orwell publica então sua obra magna: 1984. O desenrolar do romance se passa em uma sociedade “fictícia”, regida pela figura de um déspota onipotente, onisciente, onipresente e inexistente: o Grande Irmão (Big Brother). O romance abordará um tema cada vez mais comum, e, paradoxalmente, cada vez mais aceito abertamente em nossa sociedade, qual seja, a manipulação da subjetividade. O livro segue na mesma linha de Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley (1932) e Laranja Mecânica, de Anthony Burgess (1962). Assim como as duas obras citadas, 1984 traz um ambiente surreal, futurístico, colocando em foco problemas da sociedade atual; melhor ainda, narra o desenrolar de problemas que já eram atuais em sua época, e que, oxalá, não estejamos vivendo nos tempos narrados por esses autores. Contudo, à diferença destes dois, 1984 traz em seu bojo um discurso de natureza analítica a respeito do tema, que, por vezes, se sobressai à linguagem metafórica. Mais do que um romance, 1984 é praticamente um tratado – e muito antes dos escritos de Foucault – sobre o tema da coerção subjetiva a que somos submetidos constantemente, cuja natureza abstrata esconde uma sujeição real. Mais do que simplesmente denunciar a existência de tais coisas, o livro tece análises sobre a maneira como a “polícia do pensamento” e a “moral anti-desejo” funcionam na prática e no cotidiano, passando por temas como a eliminação de palavras, a deturpação dos sentidos das coisas, a criação de uma nova linguagem, eliminação do passado e da memória, eliminação das diferenças e dos estados comparativos entre as coisas, a impossibilidade de se conceber algo que não reproduza o estado vigente. A negação do desejo e a mutilação da linguagem geram um mutismo a todo pensamento próprio, como é bem demonstrado na dificuldade dos personagens em exprimir qualquer coisa que não seja ditada pelo Grande Irmão, ou, nas palavras do autor, cometer uma “crimidéia”. Chamou-me atenção o profundo conhecimento do funcionamento de coisas que hoje nos são tão corriqueiras, excessivamente banais para que dispensemos alguma atenção, porém bastante reveladoras acerca da época em que vivemos. Não são os grandes acontecimentos os que nos revelam. A história não é feita de grandes acontecimentos, mas da repetição incessante de pequenos atos, e são estes pequenos atos os que mais preocupam em nossa sociedade. A pequena tirania não difere em natureza da grande tirania, e ainda possui o agravante de ocultar-se na banalidade. Não vivemos na sociedade dos grandes déspotas, mas do pequeno tirano oculto em nossas almas. O Grande-Irmão (Big Brother) não existe somente como entidade social, mas também, e principalmente, como entidade reafirmada e reproduzida por cada indivíduo que a ele se submete. O instinto por segurança submete o desejo, a emoção, a vida. Quantos de nossos julgamentos sobre as coisas, sobre nós mesmos e sobre o outro, não são senão a reprodução da ditadura da uniformidade? Quantas de nossas percepções não são senão o enquadramento que o “olho social” impõe sobre as coisas? Por conta dessa percepção e desse julgamento, quantos já não foram “suicidados pela sociedade”, como diria Artaud? Ousar ir de encontro a esta percepção e a esse julgamento é condenar-se à derrota, como diria o sábio do Born to Lose. Porém, em 1984 esta derrota já não é mais uma derrota tão gloriosa e afirmativa como aquela sofrida pelos gregos nas Termópilas, mas uma derrota cotidiana, aquela capaz de dobrar até mesmo o joelho de Leônidas. Paro por aqui esta resenha, mais uma dose de pessimismo e eu serei internado...



Abaixo o Grande Irmão!
Putz...