quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Rock'n roll, eletricidade, individuação e física contemporânea

Quando uma pedra choca na outra, libera partículas, faíscas, objetos se partem, liberam energia e criam coisas novas. O rock'n roll, o bom rock, é indissociável dessa sensação de quebra, dessa sensação de energia liberada. Não precisa de muitas notas, basta que produzam esse efeito, basta que a batida no instrumento libere tais partículas que não se deixem reger pelo sistema de notação. O vigor colocado pelo rock no cenário musical não é dissociado desse vigor contido na execução da música. Não é de se estranhar que o rock esteja tão ligado à instrumentos elétricos. É que a eletricidade não se deixa reger pela lógica aristotélica do sujeito-cópula-atributo. Em um fenômeno elétrico energia é igual à massa, e vice-versa. E=mc2. Nada seria tão absurdo aos olhos do paradigma científico nascido com Galileu. Mas essa formula coloca em xeque também todo um sistema de pensamento, desde concepções científicas como também concepções éticas, valores morais e estéticos. Se energia é igual à massa cai por terra aquele velho dualismo de corpo e alma, resquício cristão, no qual estávamos acostumados a pensar, e através do qual fundamentávamos nossas concepções éticas. Um corpo é um condensado energético e não existe à parte de todos os outros. A intensidade de uma coisa já não é mais a intensidade de uma coisa. A qualidade não se dissocia da matéria como um atributo de um sujeito. A intensidade e a coisa são o mesmo, não se separam, e a intensidade de uma vida talvez valha mais do que sua duração. O próprio corpo não é algo estático, é um campo de intensidades, extático. No rock, assim como na eletricidade, a individuação já não se dá pelo estabelecimento de limites no entorno, pela identificação de um conjunto estável, pela atribuição de uma coisa à outra, mas pelo conjunto de coisas que põem em movimento, pelo que fazem rolar, porque pedra que rola não cria limo!